sábado, 22 de setembro de 2012

Anac diz que procedimentos de pouso da Trip são de 'alto risco'

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) abriu um processo administrativo contra a Trip Linhas Aéreas para investigar o uso de um procedimento de pouso não autorizado, considerado de "alto risco" pelo órgão. A companhia aérea confirmou que foi notificada sobre a questão nesta quinta-feira e orientou seus pilotos a não utilizarem mais o procedimento.
"A empresa Trip recorrentemente realiza procedimentos de aproximação não aprovados em sua especificação operativa", disse relatório de fiscalização da Anac de 27 de agosto, obtido pelo Estado.

A Anac recebeu denúncia anônima sobre o uso pela Trip de uma técnica de pouso chamada RNAV Approach. A técnica usa instrumentos de precisão, como GPS, e permite à empresa voar a alturas mais baixas antes de pousar, segundo o professor do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS, Ênio Dexheimer. Com isso, a empresa tem condições de pousar mesmo com visibilidade baixa, evitando sobrevoar até que as condições melhorem ou ter de se dirigir a outro aeroporto - o que aumentaria o custo.

O uso da técnica requer a certificação da empresa e do avião, o que a Trip não possui. E, mesmo com o certificado, as companhias só podem pousar em aeroportos onde o procedimento é autorizado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). "Como resultado do processo, a empresa poderá ser autuada, sujeitando-se à imposição de sanções administrativas", disse a Anac, em comunicado ao Estado. Se confirmadas as irregularidades, as sanções poderão ir de multas à suspensão dos voos da empresa.

A fiscalização da Anac flagrou o uso do procedimento em pelo menos três voos da Trip em agosto, nos aeroportos de Juiz de Fora (MG) e nos catarinenses Criciúma e Joinville, segundo o documento de 27 de agosto. Outro relatório, de 4 de setembro, diz que a Anac encontrou anotações de pilotos da Trip que definem alturas mínimas para o pouso com a técnica de aproximação por instrumentos em 15 aeroportos onde o procedimento não é autorizado pelo Decea.

Segundo quatro especialistas consultados pelo Estado, o uso da técnica sem certificação compromete a segurança. "É uma infração grave do regulamento do setor aéreo", disse o comandante Carlos Camacho, diretor de segurança de voos do Sindicato Nacional dos Aeronautas. "Só o Decea pode criar o procedimento. Nenhum piloto pode fazer isso. O risco é errar na precisão e atingir um obstáculo, por exemplo."

A Trip disse que sua operação é segura. "O procedimento RNAV Approach é uma técnica moderna e muito segura", disse o presidente da Trip, José Mario Caprioli. Ele admitiu que a empresa vinha utilizando a técnica, mas o procedimento foi suspenso na quarta-feira após determinação da Anac.

Fonte: Estadão.br

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