A piloto Betânia Porto Pinto tem quase 20 anos de carreira, e mais de
nove mil horas de voo. E pela primeira vez determinou que um passageiro
do avião que comandava se retirasse após um comentário. “Ele afirmou que
faria uma reclamação para companhia, para informar quando fosse uma
mulher comandante, para ele ter a opção de não embarcar”, contou a
piloto ao Fantástico.
A piloto explicou que ordenou a retirada do passageiro por uma questão
de segurança. “Se acontece qualquer coisa, uma rajada, se acontece uma
turbulência, que ele sinta desconfortável e entra em pânico, ele pode
colocar um avião com 100 pessoas inteiro em pânico dentro da aeronave”,
diz. A Polícia Federal foi chamada para retirar o passageiro.
A situação, até então inusitada para Betânia, aconteceu no Aeroporto
Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de
Belo Horizonte, no último dia 18. O voo da Trip ia para Palmas, com
escala em Goiânia. Ao saber que o avião seria pilotado por uma mulher,
um passageiro comentou que, se soubesse que era uma comandante, não
teria embarcado. "Ele não me xingou". Para ela, o passageiro comentou
que iria voar só porque precisava.
Depois de quase uma hora de confusão, a piloto contou que os outros
passageiros ficaram irritados com a atitude do homem. “Ele ficou mais
alterado, veio aqui para frente, começou a fazer discurso, os
passageiros se alteraram com ele, falaram com ele que era para ele
resolver a vida dele e descer”, lembrou Betânia.
Um empresário testemunhou tudo. “Levou uma vaia e desceu tranquilo,
sorridente, como se nada houvesse acontecido. Um preconceito que eu
nunca vi igual”, conta Paulo César de Oliveira.
O passageiro saiu do avião acompanhado por um delegado e dois agentes
da Polícia Federal. Ele não embarcou em nenhum outro voo da companhia. O
bilhete continua em aberto. O Fantástico tentou falar com Jeferson
Jaime Cassoli. Por telefone, conversamos com a esposa dele. “Ele não
quer falar. Ele ficou extremamente chateado com o que aconteceu. Nunca
tinha acontecido isso”, disse.
Mulheres no comando de aviões representam menos de 2% dos mais de 17 mil pilotos que atuam no Brasil, mas esse número está crescendo. De 2003 a 2011, as licenças de piloto para mulheres aumentaram de 43 para 230.
“Quando uma mulher se apresenta no mercado com as mesmas credenciais de
um homem para uma função, mesmo assim, ela tem que provar muito mais
que ela é competente”, analisou a socióloga Maria Rosa Lombardi.
E não é só na aviação civil que elas estão presentes.
“Chegar aqui para mim, com certeza foi o meu sonho”, disse a tenente
Joyce de Souza. A tenente é a primeira mulher a comandar um Hércules, um
gigante da Força Aérea Brasileira (FAB).
“Às vezes você ouve brincadeira, aquelas de sempre, 'ainda bem que não
faz baliza, não tem poste'. Mas preconceito, desconfiança séria, achar
que você não é capaz, eu tenho muita satisfação de dizer que eu não
passei por essa situação”, disse. Ela comanda uma tropa de homens.
“O fato de ter uma mulher no comando da aeronave é um orgulho para
tropa paraquedista”, disse um dos comandados pela tenente.
Fonte: G1
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