As companhias aéreas esperam que o pacote de investimentos em
aeroportos que será anunciado pelo governo seja feito por meio de
Parcerias Público-Privadas (PPPs), e não concessões. Elas acreditam que,
assim, as tarifas aeroportuárias podem ser menores.
Na PPP, a participação do governo no projeto é maior.
"Isso provavelmente faria com que as tarifas aeroportuárias cobradas
fossem mais baixas do que nos aeroportos repassados ao setor privado por
meio de concessão", afirmou à Agência Estado o presidente de uma
companhia aérea, que preferiu não se identificar. "O setor torce para
que o governo escolha o modelo de PPPs."
No anúncio de ferrovias e rodovias feito nesta semana, o
governo definiu que os projetos rodoviários seguirão o modelo de
concessão e o vencedor será o concorrente que se dispor a cobrar o menor
pedágio.
Para garantir o cumprimento dos investimentos
estipulados, só permitirá o início da cobrança da tarifa após a
aplicação de pelo menos 10% dos recursos. No setor ferroviário, porém, a
escolha foi pelas PPPs. O setor privado construirá cerca de 10 mil
quilômetros de ferrovias e fará sua manutenção.
Para que o investidor não corra riscos de demanda, o
governo, por meio da Valec, comprará toda a capacidade dessa malha e a
revenderá a usuários interessados.O grande ágio pago nos leilões em
fevereiro, que chegou a 673% no caso do aeroporto de Campinas, em São
Paulo, faz as companhias aéreas temerem que, ao longo das concessões,
que variam entre 20 e 30 anos, os vencedores, com dificuldade de obter
os retornos esperados, acabem pressionando o governo a reajustar
fortemente as tarifas.
Na opinião desse executivo, a Parceria Público-Privada também seria
mais interessante para o governo, pois poderia deixar a Infraero com a
maioria da participação acionária nos aeroportos. A primeira PPP do País
foi feita em 2005, entre o governo do Estado de São Paulo e o Grupo
CCR, para a operação e manutenção da Linha 4 Amarela na capital
paulista. Ao longo de 30 anos de operação, a empresa investirá mais de
R$ 2 bilhões na linha em equipamentos, trens e sistemas. "Esse seria um
bom modelo para os aeroportos", diz o executivo.
Modelo alternativo
A presidente Dilma Rousseff solicitou à Secretaria de
Aviação Civil (SAC) um modelo alternativo com regras mais rígidas para
as novas concessões de aeroportos, como de Confins, em Belo Horizonte, e
Galeão, no Rio de Janeiro. O novo modelo em discussão torna majoritária
a participação da Infraero e estimula as PPPs.
Ele ainda não foi aprovado pela presidente porque
persistem as dúvidas quanto ao papel da estatal na nova rodada de
concessões. "O problema é que temos mais dúvidas do que certezas",
admitiu um assessor. Nos aeroportos já licitados - Guarulhos, Viracopos e
Brasília - a participação da estatal foi de 49%, com o compromisso de
que não interferiria no processo, sendo apenas uma parceira.
Dilma não desistiu de fazer as novas concessões, mas quer
garantias para a realização dos investimentos. Quando as regras forem
aprovadas, o que deve ocorrer até o fim do mês, também será anunciado o
Plano de Aviação Regional para aumentar o trânsito aéreo da população e
de cargas entre Estados vizinhos. É também mais uma frente de
investimentos para desobstruir a infraestrutura do País e revitalizar as
operadoras regionais. A ideia é utilizar os recursos do Fundo de
Aviação Civil para dinamizar as obras.
As críticas da presidente às regras dos leilões já
realizados são conhecidas. Ela teme pela administração desses aeroportos
e tem dúvidas quanto à experiência dos consórcios vencedores, que se
associaram a empresas da África do Sul, Argentina e França. Dilma pediu à
SAC que fizesse alguns ajustes para deixar de fora operadoras de
aeroportos pequenos. Os ajustes foram feitos.
Um deles prevê elevar o piso do número de passageiros que
transitam por ano. No modelo anterior, esse corte se deu em 5 milhões
de passageiros por ano. A proposta "ficou de lado" e Dilma pediu o
modelo alternativo.
A alternativa é o fortalecimento da Infraero. A estatal
seria majoritária no projeto, e foi essa ideia que gerou insegurança e
muitas dúvidas. Como se definir o aporte dos recursos privados? Será que
as empresas têm interesse em formar parceria com a Infraero sendo
majoritária no comando dos aeroportos? Na defesa do novo modelo entram
argumentos como o de que, além de considerar a expertise da estatal, os
investimentos seriam acelerados.
A administração seria feita a quatro mãos com empresas
privadas, por meio de PPPs. Os técnicos defendem o modelo que deu início
ao repasse da operação e administração dos aeroportos para o setor
privado, em fevereiro. Eles têm acompanhado as operações dos consórcios
vencedores e garantem que estão ocorrendo avanços, não só na esfera
administrativa como na descrição das obras necessárias à modernização e
na eficiência dos aeroportos.
Fonte: As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
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