sábado, 30 de março de 2013

Funcionários demitidos da Webjet não conseguem vagas em outras companhias aéreas

Formada em administração, a ex-comissária de bordo Grazielle Sanches, demitida da companhia aérea Webjet em novembro passado, estuda para concurso na área militar ou bancária. A ex-comissária Andréia Pinto de Mesquista dá aulas em escola de aviação para garantir alguma renda, assim como seu colega Alexandre Dias. A ex-comissária sênior Débora Augusto de Miranda inverteu a situação na sua casa. No lugar de ajudar a família com o orçamento, está sendo acolhida. Desde que saiu da companhia aérea, passou a vender sorvete com a mãe, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, em Belo Horizonte. O ex-comissário Nelson Oliveira gastou praticamente todas as economias acumuladas ao longo de um ano para arcar com as despesas atuais. 

A ex-supervisora de aeroporto Thaís dos Santos Martins tentou emprego em todas as companhias aéreas, mas não conseguiu. Também resolveu estudar para concurso público.

Os funcionários demitidos da extinta Webjet fazem bicos para tentar ganhar renda extra e não entrar no vermelho no orçamento doméstico. Eles foram demitidos em novembro passado, reintegrados à companhia aérea por determinação judicial em dezembro e demitidos novamente em março. Neste mês, a Gol foi condenada pela Justiça a pagar multa de R$ 1 milhão por dano moral coletivo pelas demissões na Webjet. A empresa aérea também deverá ter que reintegrar os 850 funcionários demitidos da Webjet, sob pena de multa diária de R$ 100 por trabalhador. A Gol informa que vai recorrer da decisão.
 
Os comissários de bordo contam que recebiam, em média, entre R$ 2,8 mil e R$ 4 mil de salário mensal quando voavam. O salário base, segundo eles, era de R$ 1,23 mil. O que engordava o rendimento eram os benefícios das diárias, horas voadas, entre outras atividades. Com o corte dos benefícios, o salário dos demitidos foi reduzido a um terço do valor entre dezembro e março. Agora, voltaram a ser desligados da empresa. “É meu marido quem tem segurado as pontas com a maioria das contas. Os outros comissários estão se virando com bicos, como o trabalho em lojas de amigos, por exemplo. Como mantiveram o vínculo empregatício, não podiam arranjar outro trabalho”, afirma Andréia Mesquita.
 
O sonho de voltar a voar parece distante para os funcionários demitidos. “Eu já tentei emprego em todas as companhias aéreas, mas não participei de nenhum processo de seleção. O mercado está inchado”, afirma Thaís dos Santos Martins, que era supervisora de aeroporto. Ela trabalhou na Webjet por mais de três anos. Desempregada atualmente, faz cursinho preparatório para concurso público. “O meu marido está ajudando a arcar com as dívidas”, diz.
 
O comissário de bordo Nelson Oliveira viu seu sonho de fazer intercâmbio ir por água abaixo. Ele tinha juntado cerca de R$ 10 mil para gastar em uma viagem a Londres, Estados Unidos ou Canadá. “Eu já falo espanhol. Agora queria ter o inglês para melhorar meu desempenho na profissão. Mas já gastei de 60% a 70% das economias. Vou ter que recomeçar do zero”, afirma.

CORTES Para ganhar uma grana extra, o ex-comissário de voo Alexandre Dias tem dado aulas em curso para formação de comissários e feito serviços de recepcionista em bufês. Seus  ganhos atuais, no entanto, não chegam perto do que recebia na Webjet. Ele foi obrigado a abandonar o curso de gestão de recursos humanos, o curso de inglês e a mudar de casa. Antes, morava sozinho no Planalto (Pampulha). Hoje, divide apartamento com um amigo no Centro da capital. O aluguel caiu pela metade. “Tenho muita vontade de voltar a voar. Além disso, estava acostumado a um padrão de vida diferente”, afirma Dias.
 
A ex-comissária Débora Augusto de Miranda também tem dificuldade em arcar com os débitos. Ela tem um carro e uma casa financiados. “Estou procurando emprego, mas as ofertas que encontro têm renda muito inferior ao que eu ganhava. Amo o que faço e quero voltar à minha área de atuação”, diz. Ela agora ajuda a mãe, que atua como ambulante de sorvetes no Parque Municipal. 

“A aviação demanda tempo para contratação. E a concorrência é grande. Hoje temos menos empresas no mercado. Está difícil conseguir vaga. É como em um concurso público”, observa. O currículo da ex-comissária de Grazielle Sanches já foi distribuído para várias companhias aéreas. Mas até agora não houve retorno. “O mercado está saturado. A Azul comprou a Trip. A Gol, a Webjet. Temos menos companhias aéreas e muita gente se formando como comissário”, reclama Grazielle. 

Fonte: Portal EM

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