terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Passagens e chips de celular ainda são problema para estrangeiros no Brasil


Apesar de melhoras nos sistemas das empresas nacionais, a compra de chips de celular e de passagens aéreas e terrestres ainda são um problema para estrangeiros que vêm ao Brasil, pouco menos de seis meses antes da Copa do Mundo.

Simulações de compra feitas pela BBC Brasil nas maiores empresas aéreas do país mostraram que nos últimos seis meses, todas elas tomaram medidas para facilitar o acesso de estrangeiros a suas páginas, como a não exigência do CPF para comprar passagens.

Os turistas de outros países, no entanto, Clique continuam a encontrar dificuldades ao tentar pagar com cartões de crédito internacionais e enfrentam problemas como falhas de tradução e falta de atendimendo online em inglês. As companhias afirmam que oferecem opções de atendimento e de pagamento aos estrangeiros e que trabalham em melhorias em seus sites.

No caso das passagens terrestres, tentativas nos sites de cinco grandes empresas de ônibus interestaduais mostraram que, sem um CPF, é impossível para um estrangeiro comprar passagens online.

Atendentes de todas as empresas analisadas afirmam que turistas estrangeiros podem comprar as passagens com passaporte e cartões internacionais pessoalmente, nos guichês das companhias.

Quanto a compras online, uma delas diz que a exigência de CPF se dá por motivos de segurança.
As quatro maiores empresas de celular dizem permitir - segundo determinação da Anatel e do Ministério das Comunicações - que turistas estrangeiros comprem chips pré-pagos usando somente o passaporte como identificação.

Em simulações de compra pontuais, no entanto, a reportagem da BBC Brasil foi informada que em duas delas, Vivo e Claro, isto não era possível. Ambas as empresas disseram que seus funcionários estão orientados a cumprir a determinação do governo.

Passagens aéreas

Os sites das quatro maiores empresas de aviação do Brasil - TAM, Gol, Azul e Avianca - já têm versões em outras línguas, nas quais é possível cadastrar-se com o número do passaporte ou até prescindir de um documento para a compra da passagem.

Todas elas também declaram aceitar cartões internacionais, mas a compra na prática ainda é difícil.

"O problema com estes sites (das companhias aéreas brasileiras) é que eles têm versões internacionais que não são completas. Em algum momento você é redirecionado para algo que está em português e não consegue entender", disse o executivo de finanças americano Jonathan Richards, de 29 anos, está no Brasil desde a semana passada em uma viagem de férias.

Ao tentar comprar passagens pela Gol, em outubro deste ano, ele diz ter tido o cartão rejeitado e demorado a conseguir um atendimento por telefone - que, quando aconteceu, era em português.
A solução encontrada por Richards é a mesma encontrada por dezenas de turistas - pedir que amigos brasileiros comprem suas passagens, algo que não deverá ser possível para todos os que visitarem o país durante a Copa do Mundo de 2014.

Perguntada pela BBC Brasil sobre a possibilidade de realizar mudanças para melhorar o acesso de clientes estrangeiros, a empresa respondeu por e-mail que "como empresa competitiva, a Gol está sempre atenta a melhorias que agreguem valor aos seus clientes".

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Gol informou também que o sistema de pagamento com cartões internacionais está funcionando e que irá verificar casos pontuais de erros.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) disse à BBC Brasil por e-mail que não há regulação específica sobre as facilidades que os sites das companhias aéreas oferecem ao consumidor estrangeiro, mas que "é algo que faz parte das recomendações da Anac às empresas aéreas".
 O teste dos sites companhias aéreas feito pela BBC Brasil
Gol
  • Tem versões do site em inglês e em espanhol.
  • Os preços das passagens aparecem em reais em quaisquer versões.
  • O cadastro, necessário para comprar as passagens, tem a opção de número de passaporte, para estrangeiros.
  • Nem todas as informações estão em inglês, mas há opções de atendimento online via chat em inglês e espanhol.
  • O site diz aceitar os cartões de crédito internacionais American Express, Diners e cartões Visa e Mastercard. O pagamento por PayPal também é possível.
  • A empresa diz que "está atenta a melhorias" para seus clientes.
TAM
  • O site possui versões em inglês, espanhol, italiano, alemão e francês.
  • Os preços são mostrados na moeda do país escolhido ou em dólar.
  • A informação em inglês sobre formas de pagamento diz que são aceitos somente os cartões American Express, Visa, Diners Club and Mastercard emitidos no Brasil. A empresa, no entanto, garante que cartões internacionais são aceitos, de acordo com cada versão do site.
  • Não é necessário o preenchimento de número de CPF ou passaporte para comprar a passagem.
Azul
  • O site possui uma versão em inglês, onde os valores das passagens são mostrados em reais.
  • Versão em inglês do site é instável - exibe mensagens de erro com frequência.
  • Não é necessário ter o CPF para comprar uma passagem.
  • O chat online para tirar dúvidas, no entanto, só está disponível em português e exige o CPF.
  • São aceitos os cartões American Express, Visa e Mastercard emitidos no exterior.
  • Procurada, a empresa reconheceu limitações no atendimento online para estrangeiros e disse que irá investigar problemas no site, mas ressalta que têm atendimento em inglês por telefone.
Avianca
  • O site possui versões em inglês e espanhol. No entanto, há erros nas traduções e, em alguns casos, elas estão incompletas.
  • Para o cadastro, é possível informar o número do passaporte ou de outro documento.
  • A versão em inglês é instável. No cadastro, acontecem problemas como o não reconhecimento da data de aniversário.
  • O contrato para a compra da passagem, com o qual é necessário concordar, está em português.
  • Aceita cartões internacionais Visa, Mastercard e American Express, mas somente dos seguintes países: Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Itália, Espanha, Bélgica, China, Suécia, Noruega, Holanda e países da América Latina.
  • O atendimento online só está disponível em português. Por telefone, é possível ser atendido em inglês.
  • Atendentes oferecem a opção de fazer a reserva dos voos, que podem ser pago diretamente no aeroporto, com cartões internacionais.
  • Procurada pela BBC Brasil, a empresa não comentou o teste até o fechamento da reportagem.

Passagens rodoviárias

Se o cartão impede a compra de passagens aéreas, a falta de um número de CPF é o maior impedimento para a compra de passagens de ônibus online.

A BBC Brasil testou os sites de cinco das maiores empresas do setor no Brasil: Viação 1001, Águia Branca, Itapemirim, Andorinha e Cometa. Apenas duas delas, Viação 1001 e Itapemirim, tinham uma versão da página inicial ou do site inteiro em inglês.

No entanto, nenhuma das empresas permitia a compra de passagens pela internet com o número do passaporte. Estrangeiros devem ir diretamente aos guichês ou pontos de venda de cada companhia.
A BBC Brasil tentou contato com todas as empresas testadas, mas apenas duas responderam. A Viação 1001 disse que a exigência de CPF no site acontece "por questões de segurança" e que "ainda não há um prazo definido para qualquer mudança desse procedimento".

A Viação Cometa afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "estuda medidas para atender ao público estrangeiro durante o Mundial de futebol".

Uma alternativa para os turistas está em sites de terceiros, como o Clique Brazil by Bus, que centralizam a venda de passagens das principais viações. Criado em 2012 por brasileiros, o site, em inglês, mostra preços em dólares, permite a identificação com o número do passaporte e a compra com cartões internacionais e PayPal.

Chips de celular

Em setembro de 2012, o Ministério das Comunicações e a Anatel determinaram que turistas estrangeiros poderiam comprar e ativar chips de celulares utilizando apenas o passaporte ou a carteira de identidade de cidadãos dos países membros do Mercosul.

Mais de um ano depois, turistas ainda enfrentam uma maratona para conseguirem se comunicar com um número nacional.

O americano Jonathan Richards conta que, além dos problemas para conseguir passagens aéreas, levou duas horas em atendimento até conseguir um chip para seu iPhone.

"Fui a uma loja da Vivo em São Paulo, mas eles não vendiam microchips pré-pagos naquela loja. Eu tive que ir à banca de revistas diante da loja para comprar o chip, depois ir até outra loja para cortá-lo, porque não havia chips pré-pagos que coubessem no iPhone 4. Depois voltei à Vivo para que ativassem o número", explica.

"Primeiro me disseram que eu poderia ativar o chip com meu passaporte, mas quando ligaram para o centro de ativação, foram informados de que não seria possível. Então acabei mandando uma mensagem para meu amigo e usei o CPF dele para terminar o processo."

A BBC Brasil visitou lojas das quatro maiores operadoras do país - Vivo, TIM, Oi e Claro - em São Paulo. Em duas delas, na Vivo e na Claro, a reportagem foi informada de que ainda não é possível para um estrangeiro comprar e ativar um chip pré-pago sem um CPF.

A Vivo, no entanto, afirmou que estrangeiros podem, sim, comprar chips pré-pagos em lojas oficiais ou revendedoras, com o passaporte. "A empresa está reforçando a orientação com os atendentes, em especial nas lojas citadas pela reportagem", disse à BBC Brasil, por e-mail.

A Claro afirmou que "todos os atendentes dos pontos de venda da operadora no País, incluindo lojas próprias e agentes autorizados, estão instruídos a efetivar a venda a estes cidadãos (estrangeiros), mediante apresentação do passaporte".

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) disse à BBC Brasil por e-mail ter detectado que "cerca de 60% das lojas das prestadoras não adaptaram seus procedimentos operacionais a este entendimento – ou seja, continuam exigindo CPF e, em alguns casos, estão recusando o passaporte".

O órgão disse ainda que, na maioria dos caos, o estrangeiro consegue habilitar o chip ligando para o call center da prestadora e fornecendo o número do passaporte. Mas que considera "inaceitável que o procedimento não seja efetivo em lojas físicas". O assunto deverá ser discutido em reunião do órgão com as empresas.

Fonte: BBC 



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