Após mais de cinco dias do desaparecimento do voo MH370, da Malasya Airlines, com 239 passageiros a bordo, o paradeiro do avião ainda é um mistério.
Um dos incidentes mais intrigantes da aviação moderna vem chamando a atenção para como as aeronaves são rastreadas e acompanhadas e levando as pessoas a se questionarem como é possível um grande avião de passageiros simplesmente desaparecer sem deixar pistas.
O Boeing 777-200ER da Malaysia Airlines desapareceu das telas do controle de tráfego aéreo por volta de 1h30 do horário local no sábado (14h30 de sexta-feira em Brasília), uma hora após decolar do aeroporto de Kuala Lumpur em direção a Pequim, na
China.
As aeronaves normalmente se comunicam com o controle em solo usando uma série de sistemas, que parecem ter falhado conjuntamente nesse incidente.
Como uma aeronave é normalmente rastreada?
O controle de tráfego aéreo combina as propriedades de localização dos radares básicos com os sinais enviados pelos transponders das aeronaves para estabelecer um panorama detalhado do tráfego nos céus.
Todas as aeronaves comerciais são equipadas com transponders de cabine, que automaticamente transmitem sinais eletrônicos de volta ao solo quando recebem um sinal de rádio.
Os tipos mais básicos enviam apenas a altitude do avião e um código do voo, com quatro dígitos, mas as estações de radar são capazes de estabelecer a velocidade do avião e sua direção ao monitorar sucessivas transmissões.
A cobertura do radar normalmente termina a cerca de 240 quilômetros da costa, mas, enquanto sobrevoam o mar, as tripulações dos aviões mantêm contato com outras aeronaves usando transmissão por rádio de alta frequência.
Os transponders podem ser desligados manualmente no meio do voo, mas, no caso do voo MH370, não se sabe se a perda de sinal foi causada por uma ação humana deliberada ou por um evento catastrófico.
A última mensagem de rádio recebida pelo controle de tráfego aéreo - "Alright, roger that" (algo como "Tudo bem, entendido") - sugere que tudo estava normal a bordo minutos antes de o avião ter desaparecido sobre o Mar do Sul da China.
E o que acontece se o transponder falhar, ou se for desligado?
Se o transponder para de enviar sinais, a aeronave ainda pode ser rastreada usando o que é essencialmente a mesma forma de radar desenvolvida nos anos 1930.
Radares primários rastreiam qualquer coisa no céu que reflita a transmissão de sinais de rádio.
Assim, eles somente podem indicar a posição aproximada de uma aeronave, mas não podem identificá-la.
Esse sistema é usado hoje basicamente como um reforço e reserva para o radar secundário.
As autoridades da
Malásia sugeriram que o rastreamento pelo radar primário pode gerar informações sobre a trajetória da aeronave desaparecida, mas os dados precisam ser analisados com detalhes por especialistas.
Os aviões não têm GPS?
Sim, mas, apesar de o GPS (Sistema de Posicionamento Global) já ter se popularizado na vida moderna, a rede de controle do tráfego aéreo ainda é quase inteiramente baseada em radares.
Os aviões usam GPS para mostrar aos pilotos sua posição em um mapa, mas esses dados não são atualmente compartilhados com o controle de tráfego aéreo.
Algumas das mais modernas aeronaves são capazes de "ligar" os dados do GPS aos serviços de rastreamento por satélite, mas a manipulação de grandes volumes de dados é cara, e tais sistemas são normalmente apenas usados em áreas remotas, sem cobertura de radar.
O desaparecimento do voo MH370 deve renovar os questionamentos sobre possíveis melhorias no rastreamento em voo.
O especialista em aviação Chris Yates diz que o sistema ADS-B (Automatic Dependent Surveillance-Broadcast) já usa dados de GPS.
"O sistema ADS-B já opera em grandes partes do mundo, provendo uma imagem 'semelhante à de um radar' sobre os aviões durante o voo. Isso é o que é usado pelos serviços de rastreamento de voos online, com os dados colocados em um sistema de mapeamento", disse. "Ele se apóia em parte no GPS para gerar uma posição", explica.
As aeronaves usam o ADS-B para descobrir seu posicionamento por meio de um satélite. Então, o avião transmite sua posição para outras aeronaves e para uma estação em solo.
Os Estados Unidos exigirão que todas as aeronaves sejam equipadas com alguma forma de ADS-B até 1º de janeiro de 2020, e o sistema deve substituir o rastreamento baseado em radares na próxima década.
O avião da
Malaysia Airlines desapareceu dos sites de rastreamento de voos ao mesmo tempo em que sumiu das telas do controle aéreo, e nenhum outro dado de GPS apareceu para esclarecer algo sobre seu paradeiro.
O sistema ACAR poderia dar algumas pistas sobre o avião, como aconteceu com o voo 447 da Air France?
Quando o voo 447 da Air France caiu no meio do Atlântico, em 2009, seu ACARS (Aircraft Communications Addressing and Reporting System) a bordo deu aos investigadores pistas-chave para revelar o que havia acontecido.
O ACARS é um serviço de dados que essencialmente permite que os computadores de bordo no avião "conversem" com os computadores no solo, enviando informações sobre o voo e a saúde dos sistemas a bordo.
As mensagens são transmitidas por rádio ou por sinais digitais via satélite, e pode cobrir qualquer coisa desde a condição dos motores do avião até um banheiro com problemas.
Isso dá aos funcionários em solo com informações vitais de diagnóstico, permitindo que a manutenção seja feita com mais velocidade.
No caso da Air France, o ACARS indicou leituras falhas de velocidade, que deixou a tripulação desorientada.
Mas os investigadores dizem que nenhum dado foi recebido sobre o voo da Malaysia Airlines.
As caixas-pretas de um avião também não transmitem sinais?
O mistério do voo MH370 pode ser solucionado apenas quando as caixas-pretas, com os registros do voo, forem encontradas.
Entretanto, quando um avião se acidenta sobre o mar, a recuperação das caixas-pretas não é fácil.
No caso do voo 447 da Air France, isso levou quase dois anos.
Se estiverem debaixo d'água, as próprias caixas emitem sinais ultrassônicos - mas esses sinais têm um alcance limitado, e as equipes de resgate podem não ser capazes de detectá-las se não estiverem próximas do local exato do acidente.
As caixas-pretas - descritas pelo repórter especializado em aviação Stephen Trimble, do jornal britânico The Guardian como "um dos mais irritantes anacronismos da tecnologia moderna de aviação" - não são atualmente equipadas com qualquer forma de transmissão de sua localização por GPS.
Fonte: G1