“Falta velocidade, né?”. Essa
foi a frase mais marcante de Ayrton Senna em uma das três vezes em que
esteve em Brasília. O tricampeão mundial era fanático por aeromodelismo.
Para qualquer lugar do mundo, ele levava um “avião de brinquedo” na
mala. Foi assim em 1991, primeira vez que veio à capital federal. O
convite partiu do Presidente da República Fernando Collor de Mello.
No final daquele ano, Collor era bombardeado por denúncias de todos os lados. A imagem de político carismático estava tão firme como prego na areia. Por isso ele buscava alguém que servisse de alicerce para se manter no cargo até o final do mandato.
Na mesma época, Ayrton Senna comemorava o tricampeonato da Fórmula 1. Era a pessoa mais popular do país na época. Nem jogador de futebol era mais querido. O personagem perfeito para salvar Collor do impeachement, apostava o presidente, que convidou Senna para uma conversa no Palácio do Planalto, em dezembro de 1991.
O piloto fazia pouco caso das pretensões de Fernando Collor. Queria mais era aproveitar as horas livres que tinha entre a temporada 91/92. Há algum tempo, Senna não pilotava seu avião aeromodelo. Já que passaria seis horas em Brasília, pensou em “brincar” um pouco na cidade. Por intermédio do aeromodelista paulista, Celso di Santi, pediu que alguém o recebesse em Brasília para mostrar as pistas de aeromodelismo da capital federal. Com uma condição: ninguém poderia saber da presença de Senna na cidade.
O deputado distrital, Wigberto Tartuce, outro apaixonado pelo esporte, foi o indicado para ciceronear Ayrton Senna em Brasília. O tricampeão chegou por volta do meio-dia e seguiu direto para o Palácio do Planalto. Conversou em reservado com Collor por volta de 45 minutos. Na saída, um pelotão de fotógrafos e jornalista esperava Senna.
“Ele só sorriu para os fotógrafos, pediu para eu ir devagar para não machucar ninguém com o carro”, lembra Tartuce. “Senna falou pouco. Sobre Fórmula 1 ele só sorria, quando eu falava dessa ou daquela corrida. Ele era meio desconfiado, eu acho”, comenta.
Do Planalto, Tartuce e Ayrton Senna seguiram para o final da L2 Sul, na maior pista de aeromodelismo de Brasília. O piloto havia esquecido seu “brinquedo” no avião particular. O jeito foi voar com um F 16 de Tartuce, motor japonês OS 91. Mas tinha um problema. O controle do avião era feito para destros, e Senna era canhoto. Era como se os pedais da McLaren estivessem trocados dentro do cockpit.
“Ele reclamou. Disse que não sabia controlar o aeromodelo com o controle
invertido. Fez cara feia, mas na hora que levantou vôo deu um show,
mesmo com os comandos trocados”, recorda o deputado. O mundo podia
explodir atrás dele que Senna não estava nem aí. Fez as manobras mais
radicais com o F 16, atingiu a velocidade máxima do modelo, algo em
torno de 189 Km/H. Na aterrisagem, ele entregou o controle a Tartuce e
exclamou:
- Falta velocidade, né?
Amizade
Um dos pedidos de Senna antes de desembarcar em Brasília era manter em sigilo a visita. “Ele gostou de mim. A gente não tinha conversas profundas, mas ele gostou de mim porque mantive em segredo sua presença por aqui”, assegura Tartuce.
- Falta velocidade, né?
Amizade
Um dos pedidos de Senna antes de desembarcar em Brasília era manter em sigilo a visita. “Ele gostou de mim. A gente não tinha conversas profundas, mas ele gostou de mim porque mantive em segredo sua presença por aqui”, assegura Tartuce.
De acordo com os amigos mais próximos de Senna, ele dificilmente
mantinha uma amizade com pessoas desconhecidas. Para o piloto, Tartuce
era um desconhecido, que no começo da década de 90 ainda não tinha
pretensões políticas. “Se eu fosse deputado distrital chamava Deus e o
Mundo para tirar foto dele ao meu lado”, brinca. Mas Ayrton Senna
simpatizou com seu cicerone em Brasília.
Um ano após a primeira visita, o piloto veio ao Centro-Oeste para um
evento e decidiu passar três horas com seu aeromodelo na pista do final
da L2 Sul, em Brasília. Deu um motor YS 91 japonês a Tartuce de
presente. O deputado guarda até hoje. Veio no jatinho particular, ao
lado do amigo inseparável Américo Jacoto Júnior. Trouxe seu controle
para canhoto e voou no céu de Brasília por três horas.
Neste dia, alguns aeromodelistas tentaram puxar conversa, tirar fotos, mas Senna não dava atenção. “Ele parecia obcecado pela velocidade. Vibrava com cada manobra, o olho dele brilhava com aquela situação toda”, comenta Tartuce.
Despedida
A terceira e última vez que Ayrton Senna desembarcou em Brasília foi cinco meses antes de morrer. Seu avião particular fez uma escala na capital federal e ele se encontrou com Wigberto Tartuce no aeroporto. Os dois conversaram rapidamente sobre aeromodelismo e marcaram um encontro.
Fonte: http://www.correioweb.com.br/hotsites/senna/visitas.htm
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