Com 199 aviões encomendados e investimento de mais de US$ 20 
bilhões, GOL, TAM, Azul e Avianca aproveitam a maré baixa da economia 
brasileira para aumentar suas frotas. O objetivo é atender uma demanda 
crescente de passageiros, que pode dobrar de tamanho em até 10 anos, com
 a retomada do crescimento 
O centro de manutenção da GOL no aeroporto de Confins, na região 
metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, estava em festa na 
quarta-feira 15. A empresa aérea, criada em 2001 pela família 
Constantino, apresentava a 100ª aeronave recebida diretamente da fábrica
 da americana Boeing, em Seattle. Os demais modelos 737, que completam a
 frota atual de 140 aviões, foram incorporados com a compra da Varig e 
da Webjet ou adquiridos de segunda mão, no mercado. O evento, que também
 marcou o lançamento da nova logomarca da GOL e o início das 
comemorações do centenário da Boeing, é simbólico por outro motivo.
A
 exemplo da empresa comandada pelo executivo Paulo Kakinoff, nunca na 
história da aviação brasileira as companhias apostaram tão alto no 
aumento da demanda por voos – principalmente nos destinos nacionais. 
Somadas as encomendas de GOL, TAM, Azul e Avianca, os investimentos 
ultrapassam US$ 20 bilhões para a compra de nada menos que 199 novas 
aeronaves. Com uma frota mais jovem que a média do mercado global (nove 
ante 18 anos), a maior parte dos pedidos fechados com as fabricantes 
estrangeiras, a francesa Airbus e a Boeing, e com a brasileira Embraer, 
destina-se ao aumento da oferta de assentos.
A expectativa é de 
que ocorra um acréscimo de, pelo menos, 25% na capacidade de transporte 
de passageiros, quando todas as entregas tiverem sido concluídas, num 
ciclo que varia de dois a cinco anos. Até 2025, a projeção é de que o 
mercado brasileiro dobre de tamanho, para 200 milhões de viajantes ao 
ano. “O setor aéreo vai crescer mais rapidamente na próxima década do 
que nos últimos cinco anos”, diz Mario Bernardes Junior, analista do BB 
Investimentos. “Se as empresas não se prepararem agora, com o ciclo 
econômico em baixa, elas poderão ter um estrangulamento de eficiência 
com o crescimento do mercado.”
Estudos da Boeing mostram que até 
2034 o mundo precisará de 39 mil novos aviões, três mil dos quais serão 
destinados à América Latina. “O Brasil representa, aproximadamente, 40% 
de todo o mercado latino americano”, diz Donna Hrinak, ex-embaixadora 
dos Estados Unidos, no Brasil, e presidente da Boeing para a América 
Latina. “As empresas respondem à demanda e as brasileiras estão em 
sincronia com o que acontece no País.” Apesar da fraqueza atual da 
economia, com inflação e juros em alta e Produto Interno Bruto em baixa,
 a demanda por passagens aéreas cresce há 20 meses, segundo a Agência 
Nacional de Aviação Civil (Anac).
Para a Airbus, isso significa 
vento a favor. “Mesmo com uma economia em estagnação, enxergamos um 
futuro brilhante para o setor de aviação”, afirma Rafael Alonso, 
presidente da fabricante europeia na América Latina. “O Brasil 
representa mais de um terço de todo o tráfego aéreo latino-americano, e 
esse número mais do que dobrou nos últimos 15 anos.” As empresas aéreas 
receberam algo mais importante do que a projeção do aumento da demanda 
para fazerem uma aposta de longo prazo. A concessão dos aeroportos para a
 iniciativa privada foi o melhor benefício que o governo federal poderia
 conceder ao setor.
Desde 2011, seis aeroportos internacionais – 
Natal, Brasília, Guarulhos, Viracopos, Galeão e Confins – foram 
entregues aos investidores privados. Outros dois no Nordeste (Salvador e
 Fortaleza) e dois no Sul (Porto Alegre e Florianópolis) devem ir a 
leilão em breve. Com os investimentos na melhoria da infraestrutura, 
aeroportos como o Juscelino Kubitschek, na Capital Federal, ganham 
agilidade para o incremento da oferta de voos. A partir de novembro, o 
terminal brasiliense será o primeiro da América do Sul a ter duas pistas
 em operação simultânea.
Em Atlanta, nos EUA, três pousos e 
decolagens acontecem nas cinco pistas paralelas do aeroporto. O JK é o 
único no País com pistas lado a lado e distância segura entre elas, o 
que deverá ampliar a média de operações de 60 para 80 pousos e 
decolagens por hora. Trata-se de quase o dobro do realizado no aeroporto
 de Congonhas, em São Paulo, um dos mais movimentados do Brasil. O 
próximo ciclo de investimentos em infraestrutura é ainda mais promissor 
para o setor aéreo. O desenvolvimento da aviação regional tem a 
pretensão de reformar, ampliar ou construir 270 aeroportos, que 
passariam a ter condições de receber a aviação comercial com rotas 
regulares.
O esforço busca aumentar a média de viagens anual do 
brasileiro, atualmente em 0,5 per capita, ante 1,7 dos países 
desenvolvidos e 2,5 dos EUA. Somente a partir de 2010 o transporte pelo 
ar no Brasil superou o rodoviário para viagens de longa distância. “A
 aviação regional abre espaços para novos negócios no setor”, diz Jarib 
Fogaça, sócio da consultoria KPMG. “Ela é o grande fator de expansão da 
aviação no mundo.” A expectativa é de que o projeto da aviação 
regional seja finalizado até o final deste ano. Dependendo das condições
 estabelecidas nos contratos de financiamento de novas aeronaves pelo 
BNDES para essas rotas, como a exigência de produção por fabricantes 
nacionais, a demanda da Embraer, que tem na Azul seu principal cliente 
interno, deverá aumentar consideravelmente.
A TAM confirmou que 
manteve conversas iniciais com a fabricante de São José dos Campos para a
 compra de 18 modelos E2. A empresa estuda criar um centro de operações,
 ou hub, no jargão do setor, na região Nordeste. O empresário americano 
David Neeleman, fundador e CEO da Azul, personifica o apetite dos 
empresários do setor no País. Em menos de um mês, ele deu duas grandes 
tacadas. Na primeira, em meados de junho, Neeleman venceu a disputa pela
 portuguesa TAP através do consórcio Gateway, em parceria com o 
empresário lusitano Humberto Pedrosa.
O grupo bateu os irmãos 
bolivianos José e Germán Efromovich, controladores do grupo Synergy, 
dono da Avianca, na disputa de privatização de 61% da companhia. O 
consórcio de Neeleman investirá até € 800 milhões na TAP para expandir 
as rotas para os EUA e o Brasil. Embora as regras da União Europeia 
impeçam que companhias aéreas da região sejam controladas em mais de 50%
 por um proprietário não europeu, o empresário não descarta uma entrada 
da Azul no capital da TAP. “A força que temos na aviação regional nos 
ajuda a fazer mais de tudo”, diz Neeleman. “Capilaridade é o jogo. Tendo
 capilaridade, você ganha.”
A segunda tacada de Neeleman foi o 
anúncio, no final de junho, do acordo com a United Airlines, no qual a 
companhia americana comprou 5% do capital da empresa brasileira por US$ 
100 milhões. Os dois negócios, segundo o empresário, fortalecem e 
impulsionam as operações da Azul, terceira maior empresa do setor aéreo 
no Brasil. Por enquanto, a crise na economia não desencorajou Neeleman. 
“É uma pena que as coisas aconteçam, que a gente vá para trás um pouco, 
mas talvez seja para o bem”, disse, no evento em que foi anunciado o 
acordo com a United. “Tenho grande esperança de que o Brasil vai voltar 
muito forte.”
CAPITAL ESTRANGEIRO 
Em meio à 
revisão dos planos de empresas aéreas nos EUA, como os da American 
Airlines, que pediu o adiamento da entrega de 35 aviões da Airbus para 
se adequar à queda de demanda doméstica americana , a confiança no 
desenvolvimento do mercado brasileiro cria um ambiente atrativo para o 
capital estrangeiro. A Delta anunciou um aporte de US$ 56 milhões na GOL
 e deu garantias a um empréstimo de até US$ 300 milhões que a companhia 
venha a fazer no mercado de capitais. A segunda maior aérea dos EUA 
detinha 2,9% do capital social da empresa brasileira até abril.
“A
 Delta anuncia um corte de 15% dos voos para o Brasil, mas demonstra 
confiança na nossa estratégia”, diz Kakinoff, CEO da GOL. “A 
capitalização aumenta a robustez do caixa da companhia e ajusta os 
investimentos para a expansão da malha e dos novos destinos.” Nos 
últimos anos, as companhias aéreas tiveram mais resultados negativos que
 positivos para apresentar a seus acionistas. Até a metade do ano 
passado, o vilão era o preço do barril do petróleo acima de US$ 100, que
 impactava diretamente o custo do querosene de aviação. Com a queda para
 a casa dos US$ 50 (sem perspectiva de voltar aos três dígitos em uma 
década, segundo a OPEP), o câmbio passou a ser o responsável pelo 
impacto no balanço.
Desde o início deste ano, por exemplo, o 
dólar se valorizou cerca de 40% sobre o real. Por conta dessa variação, a
 GOL apresentou lucro operacional de R$ 514,3 milhões, mas prejuízo de 
R$ 672,7 milhões. Os resultados consolidados da TAM com a chilena LAN 
foram parecidos: lucro operacional de US$ 227 milhões (cerca de R$ 715 
milhões) e prejuízo de US$ 40 milhões (R$ 126 milhões). Combustível e 
leasing de aviões representam entre 60% e 70% dos custos de uma empresa 
área. As novas aeronaves, que aumentam a eficiência e reduzem os custos 
de manutenção, somadas ao crescimento do mercado, podem ajudar as 
empresas a voltarem a apresentar resultados positivos aos seus 
acionistas.
Segundo Alonso, da Airbus, os novos A350 XWB gastam 
25% menos combustível por passageiro do que o modelo anterior. “O preço 
do petróleo mais comportado permite um maior controle de custos para as 
empresas aéreas, que vão passar a voar mais nos próximos anos”, diz 
Antônio Uras, sócio da consultoria EY. Ao mesmo tempo, a crise gerada 
pela disparada do preço do petróleo, que durou até 2014, impôs às 
companhias aéreas uma melhor gestão da estrutura de custos. “Hoje,
 as empresas têm um nível de eficiência muito maior, comparável ao que é
 praticado lá fora”, afirma Tarcisio Gargioni, vice-presidente da 
Avianca. 
“O que ainda nos prejudica é a carga tributária, mais alta do que em outros mercados, e a falta de infraestrutura.” O
 atual momento do mercado também permite que as companhias aéreas façam 
apostas mais ousadas. Se, no início dos anos 2000, a meta era fazer as 
pessoas voarem pelo menor custo possível, hoje, é possível atuar em 
nichos e criar produtos diferenciados. “Sempre existirá um público mais 
sensível a preços”, diz Gargioni.
“Mas o setor está maduro o 
suficiente para que exista demanda por assentos mais caros, com mais 
espaço.” Essa estratégia adotada pela Avianca está sendo seguida pelas 
rivais TAM e GOL. Conforto para os passageiros, eficiência das aeronaves
 e rentabilidade das operações formam o tripé que orienta as estratégias
 do primeiro time da aviação comercial brasileira para o próximo 
período. Turbinado por investimentos bilionários, o plano de decolagem 
está em pleno andamento. Agora, é trabalhar para que os senhores 
passageiros tomem os seus assentos.
Fonte: www.istoedinheiro.com.br 

 
 
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